“Caldeirão da morte”: o alento de um hospital e o drama da Covid no sertão de AL
Acompanho por amigos, parentes, sites e grupos de Whatsapp as “notícias” da minha Delmiro Gouveia.
O interesse pelas estatísticas da pandemia-19 aumentou, especialmente depois que meus tios – os irmãos Maurício e Cláudio Bezerra Bandeira morreram de Covid-19 com um dia de diferença. Maurício em 18 de abril, em Maceió e o irmão mais novo, Cláudio, no dia seguinte, em Arapiraca.
A morte dos irmãos Bandeira comoveu Delmiro e repercutiu em todo Alagoas. Os dois eram muito queridos. A cidade parou – literalmente.
Pensei, então, que a tragédia na minha família pudesse servir de alerta. Quem sabe incentivar as pessoas – e o poder público – a adotar medidas mais efetivas no enfrentamento ao novo coronavírus.
Não foi o que aconteceu. Desde então, a tragédia só aumentou. A cada dia que entro em um ou outro grupo, está lá a informação. Mais um delmirense morreu de Covid-19.
Em um deles, no domingo (20/06), Tony Clovis (aquele que ficou conhecido por aqui como “Obama do Sertão”) disparou: “tem gente que reclama quando falo que Delmiro é o caldeirão da morte”.
Ele passou a usar o “caldeirão da morte” sempre ao anunciar um novo óbito. Um dos mais recentes, no domingo, foi um jovem de 24 anos.
Em parte Tony tem razão. A Covid-19 avançou muito na cidade nas últimas semanas.
Do início da pandemia até 19 de abril de 2021, quando os Bandeira morreram, Delmiro tinha registrado 68 óbitos por Covid-19. Em média, 5 por mês.
De 19 de abril até esta segunda-feira, 21/06, a cidade já registrava 100 óbitos. No período de dois meses, 32 mortes. Entendeu a diferença? A média agora é 16 por mês – três vezes mais que o período anterior.
Pior. Os gráficos publicados na página da prefeitura (veja abaixo) mostram a pandemia no seu pior momento, com alta no número de mortes e de novos casos confirmados na cidade. Uma prova clara de que os gestores de Delmiro Gouveia e parte da população não fazem o que deveriam fazer.
Em meio a toda dor, surge um alento: “Hospital do Alto Sertão põe fim à saga do sertanejo em buscar atendimento noutras regiões”. O título de texto que circulou na mídia local despertou, de pronto, meu interesse.
O Hospital do Alto Sertão, inaugurado nessa segunda-feira, 21/06, começa a funcionar com 60 leitos exclusivos para Covid-19. São 10 UTIs e 50 leitos clínicos. Um alívio.
A esperança é que de fato o novo hospital consiga ajudar, os que sofrem no leito e os que sofrem longe deles.
Acompanhei, no final de abril , o drama de uma professora delmirense que morreu de Covid-19 em um hospital filantrópico de Maceió (leito SUS).
Familiares e amigos pediam informação e não conseguiam. Sofreram durante dias. Nem mesmo quando apelei para alguns colaboradores conhecidos no hospital, foram atendidos. Quando a informação chegou, foi da pior forma: um comunicado de óbito.
Na Unidade de Emergência do Agreste e no Metropolitano também não foi nada fácil conseguir informações sobre meus tios.
Ao menos no HRAS as famílias de Delmiro Gouveia poderão, se necessário (espero que não seja) ficar mais próximas e acompanhar a evolução dos pacientes – isso se o secretário Alexandre Ayres cumprir o que prometeu (de humanizar mais o atendimento de pacientes de Covid-19 e melhorar a comunicação com os familiares).
Torço, no entanto, para que o novo hospital passe o menor tempo possível como “exclusivo” para Covid-19. Não foi feito para isso.
O projeto é uma unidade geral de emergência. O que só ocorrerá quando a pandemia voltar a perder força em Delmiro Gouveia.
E tenho fé e apelo à prefeita Ziane Costa, ao vice Valdo Sandes, aos vereadores da minha cidade e a meus conterrâneos que façam algo para frear a Covid-19.
Não quero voltar a escrever sobre a morte de amigos ou parentes por causa dessa doença maldita – que pode e deve ser evitada.
Desejo poder anunciar nos próximos dias que o novo hospital deixou de atender Covid-19 porque Delmiro Gouveia derrotou o corona. Me ajudem, por favor, a fazer estes texto.
Versão oficial
Hospital do Alto Sertão põe fim à saga do sertanejo em buscar atendimento noutras regiões
O Hospital Regional do Alto Sertão (HRAS), em Delmiro Gouveia, foi entregue na manhã desta segunda-feira (21) pelo governador Renan e o secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres. Foram investidos R$ 35 milhões na construção do equipamento que contará, inicialmente, com 60 leitos, sendo 50 clínicos e 10 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), exclusivos para atender pacientes acometidos pela Covid-19.
Prevista para dezembro, a entrega do HRAS foi antecipada em razão da pandemia da Covid-19 e começa a funcionar nesta terça-feira (22).
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Fonte: Gazetaweb.com