Negativa de aposentadoria, aprovação em concurso e mordida de cachorro: no Dia do Carteiro, profissionais contam experiências inusitadas

Negativa de aposentadoria, aprovação em concurso e mordida de cachorro: no Dia do Carteiro, profissionais contam experiências inusitadas

Quem tem menos de 20 anos provavelmente nunca escreveu uma carta. A maioria das pessoas com mais de 90 dificilmente recebe coisas compradas pela internet. É raro encontrar alguém que ainda receba assinaturas de revistas.

Contudo, seja qual for a idade do destinatário ou o conteúdo da encomenda, uma pessoa está sempre entre o remetente e o destino final.

No Dia do Carteiro, comemorado nesta quinta-feira (25), o g1 conversou com os carteiros Mharcia Carvalho, Marcos Franco Rocha e Júnio César da Silva, que entregam cartas há 29, 25 e 15 anos para conhecer um pouco das histórias pelas quais já passaram.

Por que 25 de janeiro?

De acordo com os Correios, por uma tradição que começou a se firmar no século XIX e se consolidou no século XX, a data de criação do Correio-Mor no Rio de Janeiro é comemorada em 25 de janeiro, que passou a ser conhecido como o “Dia do Carteiro”.

A fonte dessa tradição é um livro do início do século XIX, “Memórias Históricas do Rio de Janeiro”, do monsenhor José de Sousa Azevedo Pizarro e Araújo, que afirma ter começado “(…) no Brasil o estabelecimento do Correio pelos anos de 1663, com um regimento datado de 25 de janeiro”.

Não há unanimidade entre os pesquisadores contemporâneos sobre a escolha dessa data, mas ela segue mantida.

Sonho de infância

Que os carteiros chegam à profissão por meio de um concurso dos Correios é de conhecimento comum. Mas porque eles decidem se tornar carteiros, nem sempre.

Marcos Franco Rocha, conhecido nos Correios de Uberlândia como Mezenga, é carteiro há 25 anos. Ingressou na empresa em outubro de 1998, mas ainda se lembra o motivo pelo qual decidiu seguir a profissão: admiração.

Carteiro, na minha época, era sinônimo de quem trazia presentes. A figura do carteiro é muito ligada ao Papai Noel, até hoje é, então eu dizia que faria isso da vida. No ensino médio fiz o concurso e passei. Estou aqui há 25 anos.“, relatou.

De: Matutina, Para: Uberlândia

Junio César da Silva tem 14 anos e 6 meses de profissão. Ele saiu de Matutina, no Alto Paranaíba, que na época tinha menos de 4.000 habitantes com a finalidade de trabalhar nos Correios.

Nunca havia sequer visitado Uberlândia quando chegou na cidade para começar o ofício, descobriu que talveznem tudo sairia como o planejado.

“Na primeira rua em que estava entregando as minhas cartas, tive que fazer um desvio pra entregar as cartas de uma rua lateral. Fiquei perdido, imagina só! Nessa época não existia recursos fáceis como há o GPS nos telefones. Eu, com muita vergonha de pedir ajuda e ser chacota, demorei mais de meia hora pra achar o local onde havia saído, e detalhe… Eram somente dois quarteirões de distância”, contou.

Junio afirma, ainda, que não tem uma só vez que passa pela tal rua que não se lembra do ocorrido e cai na risada.

Das notícias ruins às boas

Mharcia Carvalho tem 49 anos e passou mais de metade dela trabalhando nos Correios. Ela recém completou 29 anos de empresa em 16 de janeiro. Dos quase 30 anos na empresa, 17 deles foram entregando correspondências e 12 anos na área de encomendas.

Ela conta que passou por diversas situações neste período e destaca, especialmente, o fato de ser a responsável por levar notícias ruins às pessoas, como também de alegrá-las com notícias especiais.

Já entreguei notícias ruins como ‘sua aposentadoria foi negada’ para pessoas que precisam e são extremamente necessitadas. Mas também já entreguei telegramas convocando pessoas para vagas por aprovação em um concurso.“, relatou.

O pior inimigo do carteiro

Existe uma lenda a respeito da relação, no mínimo, conflituosa entre os carteiros e os cachorros. Apesar de serem ditos melhores amigos do homem, há uma pequena controvérsia: eles não gostam muito de carteiros, independentemente do gênero de quem siga a profissão.

Ninguém sabe bem o motivo, mas os três carteiros entrevistados pelog1para esta matéria, já foram mordidos por cachorros.

Eu não sei o que acontece! Todo e qualquer cachorro se incomoda, pode agradar o que for. Acho que, fazendo uma comparação, é como se nós fôssemos aquela criança tocando a campainha da casa e correndo. Todo dia estamos ali, tocando a campainha, mexendo na caixinha, chamando o morador…“, explicou Mezenga.https://9e74e39a5663fcc1b65f0d2492b682b8.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Mharcia compartilha uma teoria que Mezenga acredita ser uma das possíveis razões na rixa que já permeou o imaginário popular.

“Acho que o único motivo para eles não se acostumarem com a gente é a cor dos uniformes que representam a nossa empresa. Mas, na verdade, o ideal seria que as pessoas tivessem mais consciência, sem deixar os cães soltos. Evita constrangimentos!”

Júnio, apesar de ter contado que já fugiu de cachorros e chegou a ser mordido por um, parece fugir um pouco do clichê.

“Já fiz amizades com alguns desses nossos amigos de todos os dias. Certa vez um cachorro me acompanhou durante grande parte da minha jornada de rua e não deixava nenhum outro cachorro se aproximar de mim. Virou uma espécie de cão protetor de carteiros”, contou.

Essencialidade

Com os bons amigos, boas histórias e apesar dos “perrengues” com cachorros, existe também a sensação de dever cumprido relacionado a ser parte dos Correios.

Os três carteiros defendem que, mesmo com as mudanças sociais, tecnológicas e econômicas sofridas pelo país nos 361 anos da empresa, os Correios tem e sempre terão caráter essencial na vida dos brasileiros.

Antigamente tínhamos esse fim social, da comunicação, das cartas. Hoje em dia não tem mais isso, mas hoje os Correios são essenciais de outras maneiras. Em casos de desastres naturais, são os Correios que levam mantimentos e doações, são os Correios que levam os livros e materiais escolares às escolas públicas; no fim do ano, temos o Papai Noel dos Correios. São diversas ações sociais mantidas“, contou.https://9e74e39a5663fcc1b65f0d2492b682b8.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Junio sente orgulho de ser carteiro e destaca o orgulho em saber que junto de uma bicicleta e ou carro leva conquistas e sonhos às pessoas.

“Somos hoje uma empresa centenária que, no meu ver, tem tudo pra passar de geração em geração e se tornar milenar, com a mesma importância e relevância que teve e tem até hoje. É nesta e desta empresa centenária que levo o conforto e o sustento pra minha família todos os dias”, disse.

Fonte: g1.globo.com

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