Aumento no número de empresas impulsiona a economia e cria novo cenário de oportunidades em AL

Aumento no número de empresas impulsiona a economia e cria novo cenário de oportunidades em AL

O Estado de Alagoas tem registrado, nos últimos anos, aumento no número de empresas abertas. Para se ter uma ideia, apenas no primeiro semestre de 2024, 18.721 novos negócios foram registrados, segundo dados divulgados pela Junta Comercial do Estado de Alagoas (Juceal) — crescimento de 1,13% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Os números revelam que o aumento das microempresas (MEs) e empresas de pequeno porte (EPPs) contribui cada vez mais para a geração de emprego e renda no estado.

O CadaMinuto conversou com o analista do Sebrae Alagoas, Fábio Leão, que revelou que as principais atividades das empresas criadas no período mencionado são de comércio e de serviços. Desta forma, as contratações costumam ser maiores e movimentam o mercado de trabalho local, gerando mais renda, mais ocupação e mais consumo.

“Esta espiral positiva pode movimentar outros elos e segmentos produtivos, como a indústria e o setor de alimentos”, avalia.

Fábio Leão / Foto: Arquivo Pessoal

Quanto ao porte dos negócios abertos, foram constituídos 14.017 microempreendedores individuais (MEIs), com redução de 1,68% para o mesmo período do ano passado; 3.403 microempresas (MEs), um crescimento de 9,25%; e 856 empresas de pequeno porte (EPPs), crescimento de 20,73%.

“O crescimento de MEs e EPPs é muito positivo para a economia em vários sentidos. Primeiramente no quesito geração de emprego, uma vez que as MEs têm um potencial de gerar entre nove e 19 funcionários, enquanto que as EPPs podem contratar centenas de empregados, a depender do segmento de negócios criado”, explica.

A redução no número de MEIs não preocupa por conta de dois fatores principais, segundo Fábio: o primeiro é que, em termos de quantidade de empresas criadas, as MEIs seguem ainda como a maioria dos negócios abertos.

“Sua flexibilidade deixa aberta a porta para novos negócios e novos empregos. Em segundo lugar, como podem gerar apenas um emprego formal e as demais modalidades que empregam mais tiveram mais empresas abertas, fica claro que houve uma mobilidade de geração de empregos para empresas de maior porte e, portanto, mais contratações”, detalha.

Cenário promissor

O economista Cícero Péricles ressalta que os setores de comércio e serviços juntos, formam um bloco que representa 70% da economia alagoana e são os maiores empregadores, tanto no setor formal, com carteira assinada, como no setor informal. “São os maiores contribuintes para o orçamento estadual. Como não poderia deixar de ser, são eles que mais criam empresas e atraem o maior número de trabalhadores”, afirma.

Ele explica que, como o maior número de empresas são compostas por MEIs e EPPS, o número maior de contratações ocorre sempre no mundo dos pequenos negócios, principalmente nas microempresas e empresas de pequeno porte, porque elas são a porta de entrada da mão de obra menos qualificada ou menos experiente; pela facilidade em abrir um novo negócio; porque abre espaço para o trabalho familiar; pela proximidade do local de moradia; pela sazonalidade de muitos setores, entre outros fatores.

“Na economia alagoana há espaço para crescimento e abertura de mais empregos em quase todos os setores, desde os tradicionais, como na indústria de alimentos, na agricultura que oferece produtos com novas qualidades, a exemplo dos orgânicos; no setor de comércio especializado que oferece produtos que precisavam trazer de outros estados; no setor de serviços de áreas de crescimento recente, como a dos serviços de saúde, onde existe uma permanente demanda por mão de obra; na área de tecnologia de informação e comunicação, e de setores inteiros como o turismo, pela entrada novas empresas e ampliação das existentes”, exemplifica o especialista.

Cícero pontua, também, que a economia do Estado reflete muito fielmente o ritmo da economia brasileira e da economia regional nordestina: “Como a economia nacional vem apresentando resultados positivos, desde o período pós-pandemia, a economia alagoana — assim como as dos demais estados do Nordeste — vem apresentando resultados também positivos”.

Para o economista, as razões são claras:

A influência do crescimento econômico nacional, garantindo mais transferências porque arrecada mais;
Mais investimentos das empresas nacionais, públicas e privadas, aqui instaladas;
Maior movimento turístico decorrente de mais demanda das grandes regiões emissoras, como o Sul e Sudeste etc.;
Volumosos recursos do PAC, anunciados ainda no ano passado. Neste caso, basta anunciar os R$700 bilhões a serem aplicados no Nordeste para se criar um clima favorável aos investimentos das grandes empresas e expansão dos grupos locais;
Ampliação das políticas públicas federais, tanto da cobertura como do valor pago;
Aumento do salário mínimo que impacta as rendas dos 540 mil previdenciários aqui no estado e os 500 mil assalariados que recebem, na sua ampla maioria, até 2,5 SMs.
Capacitação

Um dos exemplos de empreendedorismo e geração de empregos é a empresária Quitéria Marcia Ribeiro, administradora da empresa de jardinagem Orion Garden Jardinagem, aberta em março de 2023 e localizada na cidade de São Miguel dos Campos, interior de Alagoas . Ela conta que a intenção que a levou a abrir o negócio foi a falta de uma empresa dedicada ao ramo da jardinagem na região.


“A Órion Garden surgiu da necessidade em ter um centro de jardim, com plantas frutíferas, ornamentais, floríferas e produtos para decoração e fertilização e o todo serviço de jardinagem e paisagismo — com bons preços e assistência, sem ter que se deslocar para outras regiões, que faz com que o custo aumente” disse.

Ela reforça a importância do desenvolvimento e fortalecimento dos comerciantes locais, segundo ela, esse é um dos grandes desafios. “Nosso maior desafio é fazer com que as pessoas deixem o hábito de trocas de mudas entre si e comprem produtos de qualidade. E acima de tudo valorize o comércio local”, disse a empresária.

Hoje, a empresa conta com um quadro de quatro colaboradores, que trabalham nos serviços ofertados. Quitéria ressalta que é muito difícil encontrar profissionais especializados para a área de trabalho e que atua com colaboradores que ela ajudou na formação.

“Como é uma linha ambiental, não possuo funcionário e sim colaboradores. Infelizmente, aqui na região, não temos profissionais de jardinagem. Faço a minha parte em ensinar os colaboradores a cuidar da terra e das plantas, havendo uma troca de experiência”, disse.

A empreendedora completa falando que, por essa falta de mão de obra especializada, já entrou em contato com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), oferecendo o espaço da empresa para a formação de profissionais na área. “Já me dispus a fornecer meu espaço para o Senai para que eles atuem nessa formação de profissionais, como jardineiro e paisagista, entre outras especialidades do ramo”, revela Quitéria

Desafios

Fábio Leão, analista do Sebrae, listou as principais dificuldades, de diversas ordens, que são enfrentadas principalmente por empresas de pequeno porte. São elas:

Dificuldades de regularização: uma das dificuldades na abertura é a regularização da atividade, caso o segmento exija tais documentos. Exemplo disso são as regularizações de setores que trabalham com alimentos. Estes segmentos precisam adaptar suas unidades fabris às boas práticas de fabricação, o que contempla: adaptação da fábrica a regras de higiene na manipulação dos alimentos e insumos produtivos; instalação de balcões de alumínio; instalação de telas; construção com “pé direito” alto e diversos outros pontos que constam da legislação pertinente. Tudo isso exige investimentos que os pequenos empreendedores não têm.
Acesso a crédito para os investimentos iniciais e para capital de giro: No caso das empresas nascentes, a dificuldade de acesso a crédito ocorre justamente pela falta de um histórico de funcionamento. As empresas nascentes precisam de um tipo de recurso de risco elevado — uma vez que estão iniciando suas operações e não têm garantias de que a empresa vai dar certo, mas os bancos exigem garantias pesadas justamente para cobrir os riscos de uma operação deste tipo. Já as empresas estabelecidas precisam apresentar um histórico com o banco financiador e também garantias reais ou avalista para cobrir as operações de crédito. Muitas vezes essas dificuldades são intransponíveis e as empresas acabam acessando recursos inadequados para a operação, como crédito pessoal ou cartão de crédito.
Falta de capacitação da mão de obra e falta de experiência dos empreendedores: Estes fatores são muito valorizados pelos bancos no momento da avaliação de um pedido de financiamento. Empreendedores sem experiência não garantem segurança de continuidade para o projeto e equipes pouco habilitadas representam risco de baixa produtividade da empresa, comprometendo sua competitividade e permanência no mercado.

Acesso a insumos e matérias primas: Muitas vezes as empresas precisam importar insumos para a produção, embalagens específicas, matérias primas e outros itens, encarecendo a produção e elevando os custos do produto no mercado. Em outros casos, a empresa precisa do apoio de serviços específicos que não são encontrados em Alagoas, como: manutenção de equipamentos, treinamento da mão de obra para atividades específicas ou mesmo acesso a informações de atividades que não são comuns no estado.
Baixo nível de renda local: Como a renda média do estado é muito baixa, isto pode impactar no faturamento da empresa dificultando a cobertura dos custos totais e da acumulação de lucros para investimentos futuros. Assim, é muito importante pesquisar o tipo de produto ou serviço que a empresa está ofertando para analisar a capacidade local de consumo e decidir se seu produto será também exportado.
Já o economista Cícero Péricles avalia que as novas empresas sofrem, de partida, pela existência de uma forte concorrência já instalada no mercado, exigindo da nova unidade instalada um grau maior de acerto no tocante a sua localização, ao produto ou serviço ofertado, tanto na qualidade como no preço, a divulgação do novo negócio e criação de uma clientela.

“Os estudos sobre mortalidade dos pequenos empreendimentos revelam as dificuldades dos novos negócios na construção de bons projetos de empresa, no acesso a crédito, na formação profissional, na assistência empresarial, entre outros quesitos”, observa.

Fortalecimento a longo prazo

Para Fábio Leão, o aumento no número de empresas pode ajudar a economia com a perpetuação das atividades dessas empresas.

A duração dessas empresas no tempo, ultrapassando a marca dos cinco anos (período de maior taxa de mortalidade das empresas de pequeno porte) pode ajudar no desenvolvimento econômico local de diversas formas, como:

Na geração de postos de trabalho;
Ampliação da arrecadação de tributo por parte dos governos;
Promoção da inovação a partir do incremento da concorrência de mercado com outras empresas;
Atração de outras empresas e de novos investidores para o estado.

Fonte: Cada Minuto

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