Cooperativas que apostam na inovação ampliam relevância no mercado
Cooperativas que apostam na inovação ampliam relevância no mercado – Foto: Reprodução
Além de melhorar o engajamento e a participação da equipe, inovar se tornou parte da cultura e dos valores das organizações
A inovação vem ganhando cada vez mais destaque nas cooperativas, inclusive em suas culturas organizacionais e valores internos. Ela não se limita mais à adoção de novas tecnologias, mas engloba tendências, modelos de gestão, desenvolvimento de produtos, serviços adaptados às necessidades locais, globais, e práticas sustentáveis.
O futuro das cooperativas está intimamente relacionado à sua capacidade de inovar. As perspectivas são que nos próximos anos haja um aumento significativo na absorção de tecnologias emergentes, como blockchain para transparência em cadeias de suprimentos e sistemas de pagamento.
Isso, sem falar no crescimento de iniciativas voltadas para a economia circular, sustentabilidade e geração de valor suficiente para colocá-las na competição dentro do mercado externo.
As tendências incluem também uma crescente adoção de inteligência artificial, a valorização de práticas sustentáveis, a integração de tecnologias digitais e o fortalecimento das redes de colaboração. Algumas das principais vantagens de se colocar a inovação em prática nas cooperativas é a possibilidade de responder de forma ágil e eficiente às demandas dos cooperados e às mudanças no mercado.
“Ao integrar ideias de diversos membros e promover um ambiente de cocriação, as organizações desenvolvem soluções inovadoras, que beneficiam tanto seus membros quanto a comunidade em geral. Isso permite verificar tendências em diferentes campos como a utilização da inteligência artificial, big data e internet para melhorar processos internos, atendimento ao cliente e desenvolvimento de novos produtos”, diz João Branco, economista e professor do curso de Administração e de Economia da ESPM e do Mackenzie-RJ.
Portanto, inovar, criar, pesquisar e inserir a tecnologia nos serviços, produtos tornou-se palavra de ordem e o objetivo de muitas organizações.
Atualmente, as cooperativas tentam aplicar inovações a todos os seus setores, pois acreditam ser esse o caminho para os próximos anos.
Guilherme Costa, Gerente do núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB explica que isso ocorra é essencial despertar uma mentalidade inovadora no dia a dia da cooperativa, por meio de uma cultura organizacional, que não apenas a valorize, mas também a incentive.
“Isso envolve criar ambientes em que os colaboradores se sintam encorajados a compartilhar ideias e assumir riscos calculados com segurança. Estabelecer comitês dedicados à inovação, adotar metodologias ágeis, como o design thinking, e utilizar ferramentas colaborativas são práticas eficazes a serem implementadas”, lembra.
Outras alternativas são promover as colaborações externas com startups, universidades e outras cooperativas é fundamental para se manter atualizado com novas tendências e tecnologias emergentes.
É fundamental também reconhecer e recompensar iniciativas inovadoras, por meio de programas de ideias ou outras formas de incentivo.
Da inteligência artificial ao WhatsApp Enterprise
Não faltam cases de sucesso em inovação nas cooperativas, alguns deles são os da Unimed Nacional, que tem utilizado a inteligência artificial para identificar recibos fraudulentos, aprimorar a segurança e a integridade nas operações.
Outros exemplos são os investimentos das organizações em soluções que melhoram a eficiência e a satisfação dos cooperados, como a adoção do WhatsApp Enterprise pelo Sicredi. Ela criou uma ferramenta chamada Theo do Sicredi, para atender aos associados.
O desenvolvimento de Hubs de Inovação, como o Hub Aliança da Coprel, tem se mostrado muito eficientes. Eles proporcionam ambientes físicos e online dedicados à conexão e desenvolvimento de soluções inovadoras.
As ferramentas como o Toolkit Ailos, criado pela Ailos também têm incentivado a inovação e a autonomia de maneira didática, facilitando a implementação de novos projetos dentro das cooperativas.
A Firmeza incorporou energias renováveis à sua estratégia ESG, instalando painéis solares e biodigestores. A ideia é reduzir os riscos relacionados a flutuações de preços, disponibilidade de energia, promover a independência energética e aumentar a eficiência e segurança.
No caso da Nater Coop, a inovação foi feita na criação de um aplicativo para agilizar a coleta e análise de dados no campo, facilitando o entendimento da diversidade de perfis de usuários.
“A inovação não apenas impulsiona a eficiência operacional, mas também abre novos horizontes para modelos de negócios, criando valor de inúmeras maneiras. As cooperativas que adotam uma abordagem proativa para a inovação são capazes de transformar desafios em oportunidades, adaptando-se rapidamente às mudanças do mercado e liderando com agilidade. Essa capacidade de reinvenção contínua é um diferencial competitivo, garantindo que a organização não só sobreviver, mas prosperar em um ambiente cada vez mais dinâmico e complexo”, exemplifica Costa.
Programas para inovar
Conscientes disso, Cooperativas como a Integrada Cooperativa Agroindustrial vem trabalhando intensamente em projetos de inovações. O tema ganhou tanta importância, que passou a fazer parte da filosofia, cultura e dos valores da organização.
André Galletti Junior, Gerente de Planejamento e Desenvolvimento da Integrada Cooperativa Agroindustrial, conta que algumas mudanças têm sido vistas no setor, uma delas é a atrelada à parte técnica e com relação às pesquisas e aos produtos que são ofertados aos cooperados.
“Acredito que os grandes temas da vez são Inteligência Artificial e Automação. O segundo de maneira muito intensa nas nossas indústrias e o primeiro perpassa por tudo. Temos a visão de colocar IA desde a ponta, na mão do agrônomo, até nos nossos processos internos, para ter insights rápidos e certeiros nas decisões do dia a dia”, lembra Galletti.
Em termos de inovações, a cooperativa atua em três frentes, que vão da interna, a aberta e o trabalho de captação de recursos. O gerente de planejamento, conta que criaram o Programa Silo de Ideias, em que qualquer colaborador pode participar enviando propostas de algo a ser feito ou que já fez e teve resultados diferenciados.
O Silo existe desde 2016, mas já passou por várias reformulações, com o objetivo de impulsionar os times internos na busca por inovação.
Já na frente de inovação aberta, foi desenvolvido o programa Conexão Integrada, de 2019. Ele se destaca pelo trabalho com os hubs, em que atuam tanto com a prospecção de startups e instituições de pesquisa, até com treinamentos internos voltados para a temática.
“Seu propósito é buscar e/ou desenvolver tecnologias que atendam desafios do agronegócio. E por fim, na captação de recursos buscamos otimizar os investimentos da cooperativa a partir de recursos públicos, via editais e linhas de fomento, que são direcionados para a inovação”, explica Galletti.
Comitês de inovações envolvem colaboradores
Além da Integrada, outras cooperativas, como a Santa Clara tem se destacado com os programas que estimulam a inovação interna e externa.
Um deles é o InovaClara, que surgiu em 2020 e deu origem a um comitê de inovação, responsável por analisar e implementar melhorias nos serviços e produtos da organização. A ideia é ir além, buscando a interação dos colaboradores com novas iniciativas agregadoras.
O projeto conta com 330 pessoas, que foram distribuídas em 50 comitês composto por oito pessoas de diversas áreas que vão desde a diretoria, marketing, industrial, ESG, RH e qualidade.
O trabalho envolve reuniões em que são armazenadas, avaliadas, classificadas as sugestões dos colaboradores e das equipes.
Ele tem rendido retornos positivos em todos os sentidos, desde trazendo melhoras financeiras, incentivando os funcionários na elaboração de ideias inovadoras até no desenvolvimento de uma cultura interna voltada para a inovação.
Daniel Misturini, gerente de tecnologia da Santa Clara, conta que o comitê ajuda a direcionar as sugestões internas e por outro lado, a cooperativa também busca soluções externas, se abrindo para outras organizações na troca de soluções para os seus desafios cotidianos.
A parte mais complexa do processo é disseminar a cultura da inovação dentro de todos os setores da organização. Por isso, a importância de se criar uma cultura organizacional aberta ao tema, por meio de discussões, divulgações, captações e da criação de programas internos.
A aposta em inovação aberta
Organizações como o Sicredi tem investido em inovação aberta, com o programa Inovar Juntos criado em 2018. O programa acumula 65 desafios abertos, 1065 startups inscritas, 55 experimentos e 22 soluções escaladas. O objetivo dele é se aproximar cada vez mais das startups, visando parcerias e os benefícios de seus associados. A organização identifica as empresas, que têm maior potencial de alinhamento com os seus desafios estratégicos e desenvolve a execução dos experimentos.
O programa conta com o apoio da 100 Open Startups e da Liga Ventures, com suporte e recursos. Em 2019, a cooperativa fez parceria com o hub de inovação AgTech Garage, para promover conexões com startups, instituições de ensino e produtores rurais. A ideia resultou no projeto Caderno de Campo Digital, em que os associados e cooperados armazenam dados importantes para a produção.
Fonte: Jornal de Alagoas