Da violação ao acolhimento: o papel do abrigo feminino na vida de meninas em situação de vulnerabilidade

Da violação ao acolhimento: o papel do abrigo feminino na vida de meninas em situação de vulnerabilidade

Quando os principais direitos de uma criança ou adolescente são negados ou violados dentro de casa, pela própria família, o ciclo de desenvolvimento também é quebrado e é quando o papel do Conselho Tutelar, da Justiça e da Assistência Social se torna mais importante.


Acolher meninas e jovens que sofreram violência ou abandono é o cotidiano do Abrigo Feminino Luzinete Soares, em Maceió, onde hoje vivem 14 adolescentes, que passam a contar com assistência para recuperar a autoestima, adquirir autonomia e empoderamento e serem reinseridas na sociedade com novas perspectivas.



No local, uma residência com três quartos, sala, quintal, cozinha e ambientes para atendimento e outras atividades, as meninas têm uma rotina como qualquer outra: acordam por volta das sete horas, tomam café da manhã reforçado, algumas vão para a escola no período matutino, outras almoçam e seguem para a escola pela tarde, e ao final do dia, depois de um pouco de TV e conversas com as colegas, dormem, cada uma na sua cama.



As diferenças entre elas e outras jovens da mesma idade surgem quando as profissionais de assistência social e psicologia conseguem obter os relatos dos problemas que as tiraram do convívio familiar. E é nesse momento que começa um árduo trabalho de fortalecimento psicológico e de incentivo para a independência financeira no futuro.



Joice, nome fictício, é uma das adolescentes que moram hoje no abrigo depois de ter sofrido violação de direitos e, por isso, se separou da família. Ela tem 15 anos e já pensa em como vai dar a volta por cima: “estudando”, pontua.



A jovem tem quatro irmãos, dos quais uma mora com ela no abrigo, e dois em outro equipamento da Prefeitura de Maceió. O sonho dela é poder voltar a estar com eles e com o avô, mas também sonha em se formar e ter um emprego. “Eu penso em estudar, trabalhar, ter meus irmãos perto de mim, cuidar deles e do meu avô. Aqui os educadores me ajudam muito, eles conversam comigo sempre que estou precisando. O que tenho a dizer é que eles são ótimos”, conta.



A psicóloga da casa, Daniela Andrade, explica que as meninas que chegam ao local são logo inseridas em um processo psicoterápico ou, quando necessário, são encaminhadas para um Centro de Atenção Psicossocial.



Além disso, aquelas que estão aptas, pela idade e escolaridade, são encaminhadas para o programa Jovem Aprendiz, onde terão oportunidade de conquistar um espaço no mercado de trabalho. E também por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, as jovens são encaminhadas para programas sociais e têm prioridade, quando adultas, para serem contempladas com uma casa própria por meio da política de habitação do Município.



“O nosso trabalho aqui não é só reinserir na família, é trabalhar para a vida. Então a gente trabalha autonomia e protagonismo juvenil. A maioria dos casos são realmente exitosos”, afirma.



A coordenadora do abrigo, Andréia Luci Costa, reforça ainda que o local é a moradia temporária das meninas e jovens, por isso o trabalho da equipe técnica ultrapassa o acolhimento e se volta também para a reinserção delas, seja na família nuclear, que é composta por pai e mãe, seja na família extensa, tio, tia, avó e avô. E, nos casos menos comuns, elas ficam até a maioridade.



“O processo começa com a primeira escuta, para entender o contexto que trouxe essa menina até aqui. Fazemos visitas domiciliares, buscamos mais informações e damos a nossa sugestão ao Juizado da Infância, que pode ser trabalhar os vínculos familiares ou sugerir uma destituição. Isso leva alguns meses. Enquanto isso, a gente as encaminha para a psicoterapia, para atendimento médico quando é necessário, para o dentista, temos uma pedagoga que faz o acompanhamento de perto. A gente trabalha para que ela tenha uma vida independente com a maioridade”, afirma a coordenadora.



Fonte: Cada Minuto

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