Meningite: infectologista esclarece dúvidas sobre a doença; taxa de letalidade em Alagoas atinge 72,7% em 2024

Meningite: infectologista esclarece dúvidas sobre a doença; taxa de letalidade em Alagoas atinge 72,7% em 2024

O aumento de casos de meningite em Alagoas tem chamado a atenção de autoridades e órgãos ligados à saúde. De 1º de janeiro a 21 de agosto deste ano, o estado já registrou 15 casos confirmados da doença e oito óbitos, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).  Maceió é a cidade com maior incidência de casos, com 12 registros.

Do total de casos registrados no estado, 10 foram do tipo B, três não têm identificação sorológica definida e dois estão em análise. Dos óbitos, seis foram do tipo B, um foi classificado por critério clínico e outro está em análise para determinar o sorogrupo.

Um parecer técnico das Sociedades Alagoanas de Infectologia (SAI) e Pediatria (SAP) aponta um aumento dos casos de meningite e alerta que Alagoas está registrando uma morte por meningite por mês.

Segundo o parecer, a meningite tem apresentado uma alta taxa de letalidade no estado, desde o primeiro semestre de 2023, com picos ocasionais que intensificam a gravidade da situação epidemiológica. A taxa de incidência da doença meningocócica em crianças menores de cinco anos em Alagoas é de 4,41 casos confirmados a cada 100 mil habitantes – o maior coeficiente da doença nesta faixa etária do país. A letalidade da meningite no estado em 2024 alcançou 72,7%.

Diante da situação, o Ministério Público Federal (MPF) se uniu a especialistas em saúde para investigar possíveis falhas na política de saúde pública, especialmente em Maceió, epicentro do que consideram uma endemia. O órgão deu um prazo de cinco dias, a partir da última quarta-feira (28), para que o Estado e os municípios implementem ações contra a doença.

Na última quinta-feira (29), uma criança de 8 anos que estava internada com meningite bacteriana, no Hospital Geral do Estado (HGE) em Maceió, recebeu alta após 10 dias na unidade hospitalar. Ela é estudante do 3º ano da Escola Municipal Doutor José Carneiro, no bairro do Farol. Colegas de turma, familiares e professores fizeram uso de antibióticos para prevenção da doença.

Mas afinal, o que é a meningite, quais os sintomas e como é o tratamento da doença? Em entrevista ao Cada Minuto, a infectologista Sarah Dominique esclarece esses questionamentos.

Confira a entrevista:

A médica infectologista Sarah Dominique / Foto: Arquivo pessoal

O que é a meningite?

É a inflamação decorrente da infecção das meninges, que são membranas que recobrem o cérebro e a medula espinhal.

Quais os tipos de meningite que existem? E quais as principais diferenças entre elas?

Meningite aguda, mais comum,  e crônica, a mais grave. Outra forma de classificar a meningite é a causa dela, como bacteriana, viral, microbactéria, fúngica, dentre outras causas.

A diferença entre a aguda e a crônica é a forma como se manifestam. A aguda se manifesta de maneira brusca, normalmente de causa bacteriana ou viral, associada à febre, sinais de infecção de vias aéreas e alterações neurológicas de forma abrupta, costuma ser letal se não tratada. Enquanto a crônica tem instalação progressiva, pode ter febre associada, costuma ser por fungos e microbactérias.

Como a meningite é transmitida e qual o período de incubação?

Meningites pela bactéria pneumococo são disseminadas através de gotículas de saliva ou muco como, por exemplo, quando as pessoas infectadas tossem ou espirram. A doença pneumocócica pode levar a infecções graves nos pulmões (pneumonia), no sangue (bacteremia – disseminação da bactéria pelo sangue /sepse – infecção generalizada) e na membrana que reveste o cérebro (meningite).

Já a meningite pela bactéria meningococo pode ser causada por vírus e bactérias ou, de forma menos comum, por fungos, parasitas, medicamentos e tumores. Pode atingir pessoas de qualquer faixa etária. Em geral, a transmissão é de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Também ocorre transmissão fecal/oral, através da ingestão de água e alimentos contaminados e contato com fezes.

Como é feito o diagnóstico?

História clínica, exame físico e amostra de ‘liquor’, que é o líquido cerebral, e percorre até o final da medula espinhal.

Manifestação clínica: febre, dor d e cabeça intensa, náusea, vômitos, alterações do nível de consciência (confusão mental, irritabilidade, crise convulsiva, coma), rigidez da nuca, e a associação com outros sintomas como tosse, catarro, perda de peso etc.

Qual o momento em que a pessoa apresente algum destes sintomas deve procurar atendimento médico?

Imediatamente, pois é um quadro de urgência e emergência médica.

Existe tratamento contra a meningite? Como ele é feito e quanto tempo dura o tratamento?

Sim, para cada agente o medicamento, antibiótico, antiviral, antifúngico e o tempo variam conforme a causa.

Como é possível prevenir?

Vacinação, para as quais existem vacinas, evitar imunossupressão, uso de máscara, lavagem das mãos, bloqueio de casos etc.

Há vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS)? Quais as vacinas que existem contra a doença?

Sim,  disponíveis no SUS temos a  vacina meningocócica C (conjugada), cuja imunização é feita aos 3 e 5 meses de idade, com uma dose de reforço aos 12 meses. Adolescentes e adultos que nunca tomaram a vacina podem se vacinar a qualquer momento. E a vacina meningocócica conjugada equivalente – ACWY.

Já a vacina para meningite B é oferecida apenas pela rede privada de saúde.

 A que você atribui o aumento de casos de meningite em crianças aqui em Alagoas, com 8 mortes confirmadas só este ano?

Baixa cobertura vacinal e vida cotidiana que favorece o espalhamento das bactérias devido ao aglomerado de pessoas. E quanto aos óbitos, a falta de rapidez diagnóstica e tratamento oportuno.



Fonte: Cada Minuto

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