Fim de uma era: Neguinho da Beija-flor anuncia aposentadoria do Carnaval do Rio
Neguinho da Beija-flor, uma das maiores vozes da história do Carnaval do Rio de Janeiro, irá se aposentar da escola após os desfiles de 2025. O puxador anunciou o fim de sua trajetória através de uma carta aberta a fãs nesta quarta-feira (20/11), feriado da Consciência Negra.
Leia a carta na íntegra:
À minha amada Beija-Flor
O desfile de 2025 marcará minha despedida como intérprete de seus hinos na Passarela do Samba. No próximo Carnaval, escreverei, com a comunidade nilopolitana, o ponto final da trajetória cinquentenária, tempo de muita felicidade e alegria. Vamos atravessar a Passarela do Samba pela derradeira vez, eu com a minha voz e o orgulho de sempre, sustentando a força e a magia de nossa comunidade que brilha no altar dos bambas. Será mais um momento de nosso amor eterno.
Apesar da aposentadoria do Carnaval, Neguinho seguirá ativo. O cantor monta uma casa de shows em Porto, Portugal, onde irá receber intérpretes e representantes das escolas de samba. O puxador também levará a filha, Luísa, para o país Europeu, uma vez que a caçula pretende estudar em Portugal.
Lembro emocionado, querida escola, do início dessa história, quando cheguei jovenzinho para participar da disputa de samba, no inesquecível “Sonhar com rei dá leão”. Joãosinho Trinta, também recém-chegado, criara o enredo sobre o jogo do bicho e eu, então Neguinho da Vala, sonhava entrar para a ala de compositores. O saudoso carnavalesco permitiu que eu tentasse – e deu certo. Com o samba composto por mim, fomos campeões.
De lá para cá, você ganhou 14 carnavais, e me concedeu o privilégio de estar presente em todos. Fomos tricampeões duas vezes, levamos o Cristo mendigo coberto pela censura, na imagem mais conhecida do Carnaval. E o mais importante: inserimos a Beija-Flor de Nilópolis na história da maior festa popular do Brasil. Em lugar de protagonista.
Consolidou-se a Maravilhosa e Soberana, como está no nosso hino-exaltação, “Deusa da Passarela”, que tive a honra de compor. E virou seu merecido apelido no planeta Carnaval.
Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do Carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória.
Por isso e muito mais, jamais cogitei receber salário da Beija-Flor. Nunca assinei contrato nem me submeti a qualquer burocracia. Nossa relação é única e dispensa protocolos. Costumo repetir que se alguém deve algo, sou eu a você, minha escola. Tenho muito orgulho de carregá-la em meu nome oficial, o da carteira de identidade: Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.
Guardo como um tesouro a primeira carteira de integrante da ala de compositores. Está lá a data, 11 de junho de 1975, do começo de tudo. Dos companheiros originais, ainda estão aqui o patrono Anísio Abrahão David e a querida Pinah. Começamos juntos a aventura de conduzir uma pequenina escola da Baixada Fluminense ao panteão das gigantes de nossa cultura popular. E chegamos lá, com a participação de muitos outros sambistas que vieram depois e seguirão rumo ao futuro.
Chegou a minha hora. Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla – a quem conheci ainda antes do primeiro Carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta –, como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade. Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar comigo por toda a eternidade.
Obrigado por tudo, minha escola, minha vida, meu amor.
Olha a Beija-Flor aí, gente!
Desfile de 2025 será o último
O desfile de 2025 da Beija-flor homenageará o histórico Laíla, um dos maiores carnavalescos da história do Rio de Janeiro, com quem Neguinho teve relação próxima ao longo de quase cinco décadas.
A trajetória de Neguinho
Em 1975, Luiz Antônio Feliciano, então conhecido como Neguinho da Vala, foi contratado pela Beija-flor de Nilópolis. O puxador se destacou no histórico desfile de 1976, “Sonhar com Rei Dá Leão”, em homenagem ao jogo do bicho, que rendeu o primeiro título a escola da baixada fluminense, em enredo produzido por Joãosinho Trinta. Ao passar dos anos, Neguinho seguiu liderando a Beija-flor a mais vitórias, conquistando incríveis 14 títulos no Carnaval do Rio.
Fonte: Léo Dias
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