Funcionário de delator do PCC pegou sacola em quiosque da praia em Maceió, diz segurança
Em depoimento à polícia, um dos seguranças de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do PCC, contou que, durante a viagem a Alagoas, o único momento que “fugiu da normalidade” foi quando um funcionário dele foi até um quiosque na avenida da praia em Maceió pegar uma sacola pequena de um homem desconhecido.
O soldado afirmou que não sabe se eram as joias, no valor de R$ 1 milhão, que Gritzbach trouxe na bagagem ao desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo. O delator, acusado de lavar dinheiro da facção criminosa, foi executado com 10 tiros na sexta-feira (8).
A Polícia Civil investiga se as joias têm alguma relação com o assassinato. Em delação premiada ao Ministério Público, ele entregou policiais supostamente corrutos do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), além de dois distritos policiais da Zona Leste da capital paulista.
Na viagem, que durou sete dias, o PM também acompanhou Gritzbach e a namorada dele em visitas a imóveis para locação em São Miguel dos Milagres, a cerca de 100 km de Maceió. O casal queria passar o Réveillon com a família na praia.
O policial ainda contou que prestava serviço de segurança ao empresário havia um ano. Apesar de ser policial da ativa e trabalhar no 18° Batalhão Metropolitano, ele conseguiu acompanhar o casal na viagem ao compensar folgas acumuladas.
No momento do desembarque no Terminal 2, o segurança particular estava na frente de Gritzbach e a namorada. Após atravessar a faixa de pedestres, ele contou que foram surpreendidos por homens encapuzados que desembarcaram de um carro preto.
O policial, então, se escondeu atrás de um ônibus estacionado e “partiu em deslocamento a pé por seu lado direito, subindo por um barranco e acessando a via que dá acesso ao pavimento superior do aeroporto”. Em depoimento à Corregedoria da PM, ele explicou que estava em desvantagem e, por isso decidiu proteger a própria vida.
Após o ataque, o PM e a namorada do delator pegaram um táxi e foram até a casa de um amigo de Gritzbach no Jardim Anália Franco, na Zona Leste da capital, onde a mulher ficou. De lá, o PM voltou ao aeroporto.
Procurada, a defesa do policial negou qualquer envolvimento com a execução.
Seguranças indicados por tenente
Outros quatro PMs integravam a escolta pessoal do delator do PCC e deveriam receber o casal no aeroporto. Eles foram afastados de suas funções no sábado (9) até o final das investigações.
Uma das linhas de investigação da Polícia Civil é que os seguranças teriam falhado de forma proposital e indicado o momento em que o Gritzbach estava desembarcando.
Os policiais foram indicados para prestar o serviço de segurança particular — prática considerada ilegal pelo regulamento da PM — por meio de um tenente do 23° Batalhão Metropolitano.
Em depoimento, um dos PMs contou que foi convidado em 2023 pelo tenente. Ainda disse que trabalhou na escolta durante aproximadamente dez meses e interrompeu a prestação de serviço quando descobriu pelo noticiário que Gritzbach estava envolvido com a facção criminosa paulista.
Convidado novamente pelo tenente, aceitou fazer um “serviço esporádico” de dois dias entre quinta (7) e sexta-feira (8) para buscar o delator do PCC e namorada no aeroporto, “em razão de sua precária condição financeira”.
À Corregedoria da PM, outro PM relatou que começou a trabalhar na escolta pessoal de Gritzbach também por intermédio do tenente Garcia. Ele tinha a função de garantir a segurança do filho do empresário.
Durante o período trabalhado, recebeu a informação de um possível envolvimento de Gritzbach com atividades ilícitas, mas que não estaria mais sendo investigado e, por isso, continuou prestando serviço à família.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que “a Polícia Militar esclarece que atividades externas à Corporação constituem infração ao regulamento disciplinar da instituição, sujeitando o infrator a sanções administrativas. As punições são aplicadas conforme a gravidade da infração e o histórico de transgressões do autor, podendo variar de advertência até a exclusão das fileiras da Polícia Militar. Quanto ao caso citado, os policiais envolvidos foram ouvidos nos dois inquéritos em curso e permanecem afastados das atividades operacionais”.
G1
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