Finalista do Puskás, Madruga tem pais corujas e quase foi parar no handebol

Finalista do Puskás, Madruga tem pais corujas e quase foi parar no handebol

Quase mil quilômetros separam São Gabriel do Oeste (MS) e Ribeirão Preto (SP). As cidades, embora distantes, agora estão unidas por conta da família Madruga, que se mudou do Mato Grosso do Sul para o interior paulista para ficar viver de perto o sonho do volante Guilherme Madruga, no Botafogo-SP desde março deste ano.

Foi no Tricolor de Ribeirão Preto que o garoto de 22 anos, nascido em Campo Grande (MS), mas criado em São Gabriel do Oeste, viu a vida mudar, sobretudo após fazer um golaço de bicicleta de fora da área contra o Novorizontino, em junho, e agora é finalista no Puskás, prêmio da Fifa que vai definir o gol mais bonito de 2023. A premiação é no dia 15 de janeiro de 2024.

É muito bom para mim, porque eles são meus pilares. Fico mais determinado, porque tudo que faço é por conta deles, para dar um resultado para eles, para que eles fiquem bem. Isso me dá uma motivação a mais e tudo que eles fazem é em prol para mim, para que eu esteja bem. Tento retribuir da melhor forma possível. A companhia da família também é muito boa. Nunca me sinto sozinho, mas eles aqui no meu dia a dia é confortante para mim e ajuda a desempenhar ainda mais – disse o volante, que anotou outro golaço contra o Novorizontino, no segundo turno da Série B, do meio do campo.

Família coruja

Para Jurcenei Madruga, a dona Ju, estar perto do “Guigui”, como o jogador é chamado, é importante para que o jogador se mantenha centrado na carreira, além, é claro, de evitar a saudade que sentiu quando ele ficou longe por sete anos, no início da carreira no José Bonifácio, no interior de São Paulo, e no Desportivo Brasil, em Porto Feliz (SP), primeiro clube a contratá-lo.

– Eu acho que é importante estar do lado dele para ele comer na hora certa, fazer as atividades dele, para ele ficar bem à vontade para o jogo. Graças a Deus a gente está conseguindo conciliar. Está dando tudo certo.

Em dias de jogos do filho, o coração de mãe fica apreensivo e apertado, mas sempre confiante que o garoto vá desempenhar um bom papel em campo.

– Quando ele joga em Ribeirão, todos os jogos estou presente. Os outros vejo pela TV. Mas todo jogo eu amanheço com dor de estômago, fico muito ansiosa, muito nervosa, tremo bastante. É tudo ansiedade, aquela vontade. Mas eu gosto de mais. Incentivo muito ele. É tudo que ele gosta. É um trabalho que ele exerce muito bem feito e nós, como família, temos que apoiar.

No dia do golaço contra o Novorizontino, Ju assistia à partida com o filho mais velho, Gustavo, assessor e social media de Guilherme Madruga. A emoção do gol se misturou à tensão pelo corte de cabeça minutos antes da bicicleta.

– Eu quase morri duas vezes. A primeira quando ele machucou, porque foi a primeira vez que ele machucou em um jogo. Nunca tinha visto. Quando eu vi sangue eu achei que ele não ia jogar mais. Aí colocou a touca nele, ele levantou. Eu falei para o Gustavo: “acho que não vai dar, porque parece que ele está meio tonto, sem enxergar direito”. De repente ele acerta aquele gol de bicicleta. Foi muito maravilhoso. Gritamos tanto. Eu e o Gustavo quase morremos de tanta felicidade. Foi muito bom mesmo – disse a mãe, que está com expectativa alta para o prêmio Puskás.

 Coração de mãe é coração de mãe, né? Penso todo dia nesse prêmio. Acho que ele merece chegar lá. Foi um gol muito bonito, sem desmerecer os outros também. Mas ele é merecedor de tudo isso e a gente está fazendo muita campanha aqui e no nosso estado, que é o Mato Grosso do Sul. Estamos pedindo votos para todo ribeirão-pretano para poder ajudar, dar essa força para o Botafogo.

Handebol ou futebol?

Toda essa projeção mundial que Madruga alcançou após o gol contra o Novorizontino poderia não ter acontecido se, na adolescência, o volante tivesse optado por outra paixão.

A bola, que saiu com perfeição dos pés dele na bicicleta direto para as redes do Jorge Ismael de Biase, em Novo Horizonte (SP), talvez seria outra, um pouco menor, e jogada com as mãos, caso o garoto escolhesse o handebol.

– O sonho dele era handebol. Até um dia o pai dele falou assim: “Guilherme, futebol ou handebol?”. E ele: “Ah, pai, acho que handebol. Eu gosto tanto”. Ele jogava na seleção do estado e gostava demais – contou a mãe.

Segundo o volante, o handebol entrou na vida dele por conta dos amigos da escola e da cultura do esporte em São Gabriel do Oeste.

– Eu gostava muito na época. Estava uma febre porque meus amigos jogavam e eu queria muito estar junto com eles. E sempre tinha viagens. Na minha cidade sempre era mais forte o handebol. Então era por conta das viagens, de estar junto. Eu gostava muito e preferia na época. Sempre pratiquei muitos esportes, mas na época era o handebol o favorito.

No entanto, o futebol falou mais alto muito pela influência do pai, seu Genildo, que tinha o sonho de ser jogador profissional e investiu na carreira dos filhos. Gustavo era centroavante, chegou a jogar, mas por conta de uma lesão no quadril abandonou os gramados. Guilherme, no entanto, saiu do Mato Grosso do Sul em busca do sonho.

O futebol eu sempre joguei por influência do meu pai, que era muito fã e sempre teve o sonho de ser jogador profissional. Isso passou para mim. O futebol estava lado a lado comigo. Aí tinha uma decisão a tomar, porque para futebol eu teria que sair da minha cidade e buscar outras oportunidades, porque na minha cidade não tinha tantas e foi aí, com 13 para 14 anos, que tomei a decisão. Meus pais que tiveram a decisão mais forte, porque não sabia muito o que ia acontecer, para onde eu ia. Tive que sair da minha cidade, dos amigos de infância para ir em busca desse sonho.

De acordo com o irmão Gustavo, o fato não ter seguido a carreira não o impediu de viver o sonho do futebol. Hoje ele segue no mundo da bola assessorando Guilherme.

– Somos bem unidos. Inclusive quando éramos mais novos, nosso pai fazia futebol de rua para gente. Éramos nós dois contra nosso pai na rua mesmo, com gol de chinelo. A união sempre esteve presente, mesmo ele crescendo distante, morando em alojamento, a parceria sempre existiu. Agora morando na mesma cidade a parceria aumentou. Sempre que um precisa de conselho o outro está perto, ajudando. A parceria só aumentou.

Carinho da garotada

O sucesso de Madruga com a possível premiação no Puskás tem chamado a atenção das novas gerações de torcedores do Botafogo.

Ele participou de uma noite de autógrafos na loja oficial do clube em um shopping da cidade e tem sido abordado com frequência por crianças no condomínio onde mora. Entre fotos e bate-papo, destacam-se os pedidos de camisa e as cartinhas com mensagens de carinho.

-Às vezes eu abro o portão de manhã e tem um papel na calçada. Aí penso que é recadinho de algum morador do condomínio, mas são as crianças que deixam pedindo camisa, querendo conversar com ele. Às vezes tocam campainha e quando ele está aqui ele fala com todo mundo. As crianças adoram o Madruga. Ele é um exemplo para eles e recebe todos muito bem – relatou a mãe.

Fonte: ge.globo.com

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