Netanyahu bate-boca com ministro da Defesa por acordo de cessar-fogo em Gaza
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e ministro da Defesa, Yoav Gallant, durante coletiva de imprensa, em Tel Aviv, Israel • 28/10/2023ABIR SULTAN POOL/Pool via REUTERS
Dupla discutiu furiosamente sobre se, como parte de qualquer acordo, o Exército israelense deveria deixar o Corredor Filadélfia, um trecho de 14 quilômetros que corre ao longo da fronteira entre Gaza e Egito
Uma disputa acirrada sobre as condições para um acordo de reféns e cessar-fogo em Gaza surgiu entre o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa, Yoav Gallant, em uma reunião do gabinete de segurança na noite de quinta-feira (29), de acordo com vários relatos na mídia israelense.
Os dois discutiram furiosamente sobre se, como parte de qualquer acordo, o Exército israelense deveria deixar o Corredor Filadélfia, um trecho de 14 quilômetros que corre ao longo da fronteira entre Gaza e Egito, de acordo com a afiliada da CNN, Channel 12, o Times of Israel e outros meios de comunicação.
O corredor de Filadélfia é atualmente controlado pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).
A movimentação de tropas israelenses ao longo do corredor durante a primeira fase de um acordo de cessar-fogo tem sido um grande ponto de discórdia entre Israel e o Hamas, com o Hamas dizendo que as tropas israelenses devem se retirar da zona de fronteira.
De acordo com vários relatos, Netanyahu produziu mapas mostrando como as FDI deveriam permanecer no corredor durante a primeira fase do acordo – na qual os reféns também deveriam ser libertados – para impedir que o Hamas retomasse o contrabando de armas pelos túneis sob o corredor.
“Gostaria de levar a decisão sobre as tropas da FDI permanecerem no Corredor Filadélfia para aprovação do gabinete”, teria dito Netanyahu.
Gallant interrompeu, de acordo com os relatos da reunião, dizendo: “O significado disso é que o Hamas não concordará com isso, então não haverá um acordo e nenhum refém será libertado.”
Ele também alegou que Netanyahu havia elaborado mapas diferentes daqueles preferidos pelos negociadores israelenses no Cairo, acrescentando: “Vocês impuseram esses mapas a eles”.
Netanyahu rejeitou a alegação com raiva, mas Gallant persistiu. “É claro que você forçou (isso). Você está conduzindo as negociações sozinho. Desde que você dissolveu o Gabinete de Guerra, ouvimos tudo depois do fato.”
Gallant pareceu receber apoio do Chefe do Estado-Maior Geral Herzi Halevi, que estava na reunião. Ele teria dito que as FDI poderiam se retirar do corredor e retornar “ao final de seis semanas de cessar-fogo. Há restrições suficientes para negociações, não há necessidade de adicionar outra.”
De acordo com relatos publicados, Gallant disse em um ponto que “o primeiro-ministro pode de fato tomar todas as decisões, e ele também pode decidir matar todos os reféns”, provocando repreensões de outros ministros. Ele acrescentou que “30 vidas estão em jogo.”
Gallant acrescentou que “no final, Sinwar ditará a você e você se retratará”, uma referência ao líder do Hamas Yahya Sinwar, que se acredita estar escondido em Gaza.
Netanyahu, em resposta, teria insistido que ninguém ditou a ele, dizendo que “apenas uma negociação determinada o fará (Sinwar) ceder”.
O gabinete procedeu à votação dos mapas que Netanyahu apresentou, aprovando-os por oito a um, sendo o único dissidente Gallant.
O ministro da Segurança Nacional de direita Itamar Ben Gvir se absteve da votação. A mídia israelense citou fontes próximas a ele dizendo que ele se opunha a qualquer redução gradual no número de soldados no corredor.
Uma autoridade israelense disse à CNN neste sábado que não pôde comentar os mapas apresentados na reunião, mas confirmou que Netanyahu pediu ao gabinete que realizasse uma votação sobre as forças que permanecem no corredor da Filadélfia.
O Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas respondeu aos relatos da mídia sobre a reunião com uma declaração de que eles “deveriam fazer com que todos os cidadãos israelenses perdessem o sono”.
Fonte: CNN Brasil